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Shirley e o Miura

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                O ano era 1973 na pequena cidade de Pedra Bela no interior de São Paulo. Embora a cidade fosse pequena o agito na pracinha principal era grande. Do mais pobre ao mais rico, todos os povos de Pedra Bela se uniam na pracinha após o expediente. Pode-se dizer que ali era o point da cidade, morô? (“morô” é tipo “saca”, entende?)                 Shirley, mais conhecida como Shirli, pois ninguém se preocupava em pronunciar o “e” de seu nome, não era diferente e após fechar a lojinha do Seu Darci também ia para a pracinha para azarar. (“azarar” é tipo dar mole pra algum broto, mora?) A questão é que Shirli (ey) não ia para azarar os rapazes da cidade, mas sim os brotinhos. E claro que a fama dos largos sapatos de Shirli (ey) era grande, também era impossível não notar uma mulher com seus 30 anos, solteira “nessa idade” (como dizia sua mãe), com um cabelo a la Sidney Magal, calaças boca de sino, óculos garrafais e sempre com um palitinho de madeira nos lábios.                 Em

O AMOR DE TRANCA RUAS

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               José de Oliveira, conhecido como Zé em todo vilarejo, era um homem de 44 anos e de estatura média, desgastado pelo tempo que se passou rápido demais.... Teve uma vida muito agitada e sem qualquer estrutura familiar. Zé nunca soube o que realmente era uma mãe por ter sido criado pelo próprio vilarejo em que viveu desde que se conheceu por gente. Nunca soube de seus pais biológicos e sobreviveu de trabalhos manuais forçados desde pequeno. Esteve pouco tempo na escola, mas sabia se resolver com todas as lições que a vida tinha a lhe passar. Dona Maria era o nome da senhora que o acolheu quando ainda moleque, ela trabalhava em casa de madames famosas e de renome, mas a sua realidade era dura e muito diferente das casas que limpava. O que tinha para comer em casa quase não dava para o sustento, mas seu coração era enorme e ela sempre conseguia enxergar alguém numa situação pior e precisando de ajuda mais do que ela mesma. Anos se passaram e Zé tornou-se homem feito

A Galhada Sobrenatural

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Ivonilde era uma cartomante de araque. Desde pequena aprendera com sua mãe a aplicar pequenos golpes em nome do sobrenatural para a sua sobrevivência. Ainda criança já sabia dizer o que o coração de um adulto desejava ouvir. Aprendeu as previsibilidades e macetes que faziam com que todos caíssem em seu papo espiritual. Quando era adolescente sua mãe a levava para o centro da cidade, fantasiada de cigana. Instruiu que a filha treinasse o sotaque paraguaio mais fajuto que pôde, pois isso passava certa credibilidade. Alguém que mora numa mesma cidade que você, talvez só de te olhar, saiba que você é um pobre, ferrado da vida. Mas alguém de fora conferia um ar de mistério, pois como poderia aquela estrangeira saber tanto sobre a sua vida? E assim Ivonilde ia levando a vida, de golpe em golpe. Era verdade que muito embora não tivesse ido muito longe com os estudos e muito menos ambicionara fazer qualquer faculdade, gostava muito do assunto. Estudava o significado das cartas. Estudou